sexta-feira, 5 de junho de 2009

A queda do Airbus, o Dia do Meio Ambiente e o xixi no banho

A área onde o Airbus A330 da companhia aérea Air France caiu é conhecida como Zona de Convergência Intertropical. Nessa área sobre o Oceano Atlântico, que faz parte da rota de todos os voos que saem da América Latina com destino à Europa, as tempestades são comuns e conhecidas pelos pilotos, que estão devidamente treinados e preparados para desviar das turbulências. Centenas de voos utilizam esse trajeto semanalmente e, ainda que essa rota esteja sujeita a condições climáticas bastante densas, é considerada segura e de fácil operação pelos pilotos e especialistas em aviação que, além disso, afirmam que um avião do porte do Airbus dificilmente cai apenas em função de uma tempestade, ainda que seja atingido por um raio.
As fortes tempestades na Zona de Convergência Tropical são historicamente comuns bem como a variação das interferências que elas causam em todas as regiões inclusas ou periféricas a essa Zona. Porém, corre solta a informação de que o aquecimento global causado pela degradação ambiental está tornando mais intensas e imprevisíveis as tempestades nessa área, fazendo com que os voos sejam muito mais perigosos e sujeitos a condições ainda inéditas e, portanto, não contemplados por todo o avanço tecnológico agregada às aeronaves mais modernas.
Em função do acidente, nessa semana, em inúmeros Blogs pudemos ler opiniões como essas: “Se o clima está fora dos padrões que conhecemos, com certeza a culpa também é nossa: lembrem-se de aquecimento global, poluição, aterros de dimensões titânicas para construir prédios onde antes havia rios e lagos... Tudo isso contribui para que o clima se torne perigoso não só através de secas e enchentes, mas em ventos e tempestades. O avião perde cada vez mais segurança a cada momento em que continuamos a poluir.”, ou ainda “O acidente foi possivelmente causado pela famosa Zona de Convergência Intertropical que vem castigando a região Norte e Nordeste. Apesar de toda tecnologia de um Airbus A330, quando se fala em fatores climáticos não tem equipamento que segure a força da natureza ainda mais agora com o aquecimento global.”. Essas opiniões são seguidas por inúmeros comentários que concordam com esse enfoque e reiteram a idéia de que a natureza está se vingando do homem: a gente mexeu no clima, agora a natureza vai derrubar nossos aviões.
Não são poucas as pessoas que, nesse momento, estão absolutamente convencidas da grande vingança da Mãe Natureza. Ainda que, de fato, a atuação da raça humana sobre o Planeta Terra esteja causando grandes e significativas mudanças, muito do que se fala não tem base científica. Porém, isso tem pouca importância quando, a maior parte da população mundial acredita que caminhamos a passos largos para a “Era Mad Max”.
No Dia Mundial do Meio Ambiente, todas essas questões ambientais são exploradas -- nos meios de comunicação, nas escolas, em protestos ou manifestações -- gerando, pelo lado positivo, uma conscientização maior e um comportamento mais adequado e comprometido com a preservação da vida e do meio ambiente. Por outro lado, os “ecoxiitas” sentem-se reforçados e cada vez mais incumbidos de alertar as pessoas sobre os inúmeros perigosos (reais ou imaginários) das ações do ser humano contra o planeta e de apontar os vilões.
Sem dúvida, os principais vilões apontados são as grandes corporações que “arrasam o planeta visando apenas lucro e sem pensar nas consequências futuras”. No mundo corporativo, a atenção para a gestão ambiental não é mais uma questão apenas de responsabilidade social ou da construção da imagem das empresas, mas, cada vez mais, tende a ser um fator de sobrevivência. É assim: produzir ou fornecer serviços sem causar nenhum reflexo no meio ambiente é impossível. E, hoje em dia, até mesmo o pequeno pecuarista tem estar alerta e comprometido uma vez que se sabe que os “arrotos” dos bovinos são grandes responsáveis pela emissão de altos índices de gás metano na atmosfera, contribuindo em larga escala para o aquecimento global. Não salva ninguém!
Nesse contexto, para as empresas não basta mais apenas estar “em dia” com a legislação ambiental, se adequando às regras e cuidados que levam a uma produção limpa. Aos olhos do consumidor, isso já faz parte das obrigações “básicas” de cada pessoa jurídica. Também parece não estar mais bastando apenas “zerar” os custos que a produção da empresa causa ao planeta, seja através da neutralização do carbono ou da adoção de conceitos como o de sustentabilidade.
É preciso ir além, antecipar-se, demonstrar publica e claramente um comportamento pró-ativo e, mais do isso, criativo em relação à preocupação e aos cuidados com o meio ambiente.
Recentemente a ONG SOS Mata Atlântica lançou a campanha “Xixi no banho”, desenvolvida pela F/Nazca, incentivando a prática das pessoas fazerem xixi no banho para economizar água. A campanha é simpática: o jingle é bonitinho, as gotinhas de água e de xixi de animação são engraçadinhas, o site é bem desenvolvido, interessante e bastante explicativo. Tudo estaria tranquilo não fosse o mote da campanha que deixa uma “pulga atrás da orelha”: até onde vamos ter que ir para nos destacarmos na área das causas ambientais? Essa campanha prega até mesmo que a gente lave a salada durante o banho. Isso me faz questionar a real eficiência dessas ações: eu, pelo menos, se tivesse que lavar a salada durante o banho, certamente gastaria mais água uma vez que não me acho capaz de me lavar ao mesmo tempo que higienizo minhas folhas de alface americana. Acredito que eu economizaria água se colocasse minhas verduras de molho na minha discreta bacia com um pouco de vinagre.
Campanhas como essa mostram até onde se está indo em função das questões ambientais e deixam em aberto a pergunta: como as empresas devem tratar dessas questões daqui para frente e como se destacar como uma empresa “amiga do meio ambiente” em um universo tão cheio de mitos, suposições, inverdades e exageros justificados pelo “bem comum/ bem maior”?
Conscientização, preservação, educação, conhecimento, ética, responsabilidade, práticas e atitudes idôneas parecem não bastar para qualquer empresa que, num futuro breve, queira ter sua imagem associada de forma positiva com as (corretamente) valorizadas causas ambientais. Criatividade parece ser o rumo, mas com a responsabilidade de tomar um enorme cuidado para não “inventar causas” cuja única função é dar suporte a uma campanha de impacto ou que se utilizem e se apoiem nas crenças populares. Fica aí o desafio.

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